sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O Génio do Cante Flamenco

Camarón de la Isla (nome artístico de José Monge Cruz), nasceu a 5 de Dezembro de 1950, em San Fernando (Cádiz). José Monge recebeu o sobrenome de Camarón, de seu tio Joseíco, por ter cabelo ruivo e o apelido “de la Isla”, por ser natural de San Fernando, antigamente chamada de Isla de León. Cresce num ambiente rodeado pela arte do canto, toque e bailado puramente flamenco. Com apenas oito anos já cantava nas tabernas e praças de Cádiz e San Fernando. As suas primeiras actuações foram em Venta de Vargas, onde escutou e aprendeu o cante flamenco de Manolo Caracol e La Niña De Los Peines, entre outros. Os primeros passos dentro do mundo profissional do flamenco são dados aos 15 anos (1966) com Miguel de los Reyes no Tablao Gitano de Málaga, onde tomará contacto com um dos seus mais destacados mentores, o cantor Antonio El Chaqueta. 
Camarón de la Isla e Paco de Lucía
Chega a Madrid em 1968, onde Antonio Sánchez, pai de Paco de Lucía, depois de o ouvir cantar, coloca-o em contacto com o seu filho. A junção é perfeita e este encontro dará lugar a uma das parelhas mais emblemáticas da arte do flamenco do século XX. Em 1969 gravam o seu primeiro disco, que será o primeiro de muitos. Os Festivais Flamencos permitem a Camarón de la Isla alhear-se do ambiente dos “tablaos” e entrar em espectáculos, até que começa a dar recitais onde figura como artista único. O concerto no Palácio dos Desportos em Madrid perante quinze mil pessoas é um marco na historia do flamenco. Em Julho de 1992 Camarón de la Isla morre vitima de doença linfática en Santa Coloma de Gramanet (Barcelona).
A 18 de Maio de 1920 Sevilla saiu à rua para prestar honras de imperador ao corpo embalsemado de um matador de touros cigano: José Gomes Gallito, o filho de Gabriela. A 4 de Julho de 1992 San Fernando, despida da sua alma, saiu à rua para prestar honras dignas de um Messías ao corpo de um cantor cigano: José Monge Cruz, Camarón de la Isla, o filho de Juana la Canastera... Há quem assegure que, tanto naquele dia em que Gallito foi senhor e amo dos ruedos, também Camarón de la Isla – o génio silencioso que tudo nos disse, cantando – se converteu em lenda nesse 4 de Julho de 1992.
Só que isto não é uma certeza, porque Camarón de la Isla já era uma lenda nos dias em que andava por este velho Mundo... Ele não partilhou o trono nem o ceptro do cante flamenco com ninguém e, sem rival, reinou sempre em absoluta solidão. Camarón de la Isla partiu. Mas “no llores, pueblo gitano”! Ele deixou-nos o mais efectivo e invencível dos seus talismãs: o seu canto, que nos guiará, iluminará e dará alento para percorrer o imenso vale da tristeza que pelos tempos nos invadirá. Até porque nesse dia 4 de Julho de 1992, em que cinquenta mil mãos abertas se elevaram ao céu, ao passar o seu corpo coberto por um sudário bordado a ouro e fogo, a lenda não nascia. A lenda apenas continuava.