sábado, 24 de abril de 2010

Um Segredo

Bem sei que o meu pai nunca foi um homem de discursos muito elaborados, não foi uma pessoa com vida académica, apenas se pode considerar um bom falador que, talvez pelos anos que já viveu e pelas experiências acumuladas, lhe conferem o dom de saber um pouco de tudo. E esta ­“sabedoria” é acima de tudo uma coisa transversal: é do futebol à agricultura, da política aos assuntos domésticos, até sobre medicina de vez em quando, lá vem uma opinião… Enfim, é o que se pode chamar na gíria: “esperteza saloia”. Confesso que algumas vezes acredito, das outras, faço de conta que também acredito… No caso que vou revelar, devo admitir que não acredito muito, e a justificação é que afinal um segredo é sempre um segredo, e por isso não deveria estar ao alcance de qualquer um. Porque raio haveria o meu pai de ser um dos eleitos? Lá está… faz de conta que acredito, mas a verdade da coisa fica só para mim… Há um par de dias, enquanto vasculhava a minha carteira onde guardo os documentos, deparei-me com um papelinho todo amarrotado e com as letras já um pouco sumidas, onde se podia ler a custo qualquer coisa como:

2 litros de Vinho Tinto

1 litro de Vinho Branco

1 litro de Aguardente

1 kg de Açúcar Amarelo

33 folhas de Pessegueiro

Estes seriam os ingredientes que faziam parte de uma receita, ou eventual receita do tão afamado e conhecido Vinho do Porto. E dei comigo a pensar, não é que a receita seja verídica, mas o ambiente e a maneira como o meu pai me entregou esse papelinho, fez-me acreditar que ele pensa que isto tudo é verdade e eu só lhe posso fazer crer que também eu acredito… faz de contra que é o nosso segredo. Nunca experimentei a receita, e o mais certo é nunca o fazer, se calhar nunca ia dar em nada, mas assim sei que na dúvida, tenho dias em que acredito que pode resultar!

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